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  • Alfredo Gueiros

Bota Fora


O dia da semana de 20 de novembro de 1971 foi um sábado e essa data marcou a minha chegada à cidade do Rio de Janeiro e, marcou mais ainda pois, foi nesse dia que o elevado Paulo de Frontin desabou.

Após uns dias na casa da minha tia avó Dona Florípedes, que morava na rua Paissandu, no bairro do Flamengo, nos mudamos para um apartamento na rua Gilberto Cardoso número 200, bem em frente ao clube de regatas do Flamengo.

Selva de Pedra, como ficou conhecido o condomínio formado por 40 prédios de vários tamanhos e números de apartamentos foi recebendo aos poucos seus moradores e assim como eu e meus irmãos, chegaram vários rapazes e moças que ao longo dos meses, se tornou em um grande grupo, e nossos encontros aconteciam nas áreas entre os prédios.

Logo passamos a chamar o condomínio de Favelão, em alusão à favela Praia do Pinto que existiu naquele lugar que sofreu um incêndio que a destruiu totalmente.

Lembro-me dos nomes da maioria tais como: Luís Antônio (Badá), Paulo Roberto, Socorro (Mary Help), Renato, Margareth (Boury), Beto (Caskatus), Paulo Roberto (Pavão), Cleo, Ligia, Zé Henrique, Paulo Bitelo, Maria Alice (Lili), Silvana, Anna Almeida, Beguinho, Vania, Cristina (Kohoutek), Sonia, Odilon, Verinha, e muitos outros mais.

Aconteceu que o nosso amigo Paulo Roberto Reis (Pavão) teve que se mudar e com a mudança, resolvemos fazer uma festa de despedida. Primeiro resolvemos que o som seria o do Zé Henrique juntamente com a sua coleção de discos, depois resolvemos ir comprar a bebida e ai começou a esquentar. Fizemos uma cota fomos até ao supermercado, Casas da Banha, ali na Bartolomeu Mitre, e lá encontramos a bebida mais barata de toda a seção do supermercado, um Bourbon por nome de Old Fellow. Era mais barato que cachaça.

Dona Gilda, mãe do Badá e da Lili, tinha muitas e várias garrafas de whisky vazias e resolvemos engarrafa-las com o famoso e gostoso whisky Old Fellows e para isso, fomos ao apartamento onde eu morava, pois meus pais estavam viajando e só tinha eu e meu irmão Elmar.

Quando estávamos no meio do processo do engarrafamento, eis que chega Elmar e Roberto e o último afirmava ter um refinado e apurado gosto para conhecer um bom whisky. Às pressas escondemos as garrafas na cozinha, porém, Elmar desconfiou e ficou insistindo, querendo saber o que estávamos aprontando. Como não achei uma saída, fui lá na cozinha, peguei uma garrafa de Cutty Sark, recém engarrafada com o delicioso Old Fellow e disse que tínhamos acabado de chegar do supermercado onde compramos o whisky que seria servido na festa. Abri a garrafa, servi a dose para Roberto.

Ele examinou a dose, levantando o copo contra a luz. Roberto cheirou, balançou, cheirou de novo e finalmente sorveu num único gole a dose do Old Fellow, ao mesmo tempo em que, mais uma vez, levantava o copo vazio contra a luz, como se examinasse se ainda restava um pouco daquele néctar e disse:

- ...esse sim, isso é que é whisky de primeira qualidade. Esta aprovado! Pode servi na festa!

No outro dia, após a festa, que contou com a presença de muitos, revelamos a trapaça porém, Roberto nunca acreditou que tínhamos trocado a bebida, sempre afirmava que o whisky era o original Cutty Sark!


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