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  • Alfredo Gueiros

Festa da Padroeira


Zé Maria, figura impoluta e, assim como o seu único irmão, Iarandir, era também, muito espirituoso e gostava de contar histórias que muitas vezes ele era o protagonista. Nascido em Monte Alegre, mas, quando se tornou adulto, passou em um concurso para fiscal da fazenda da Paraíba e seu posto de trabalho era na divisa com o estado do Rio Grande do Norte, próximo a cidade de Patos.

Em uma das festas de comemoração da semana da padroeira de Monte Alegre, Zé Maria tirou uma licença de um fim de semana prolongado e foi até lá, participar das festividades e ainda rever parentes e amigos.

Ao término dos festejos, no domingo, Zé Maria resolveu então, retornar ao seu posto de trabalho, para isso foi até rodoviária de Natal, apanhar o transporte, um pequeno detalhe, o ônibus só partiria na manhã da segunda feira e, Zé Maria resolve ir a um estabelecimento, onde tem musica, mulheres e bebidas, se divertir e passar o tempo. Por volta das 5:hs, com uma ressaca enorme e fome do mesmo tamanho, vai até a rodoviária esperar o seu transporte, porém a fome falou mais alto e ele foi até um dos boxes que vendia comida, sentou-se no banco e perguntou o que tinha para comer, a dona do estabelecimento respondeu que tinha acabado de abrir e ainda não tinha nada pronto para oferecer ao faminto Zé Maria e, antes que concluísse a frase, lembrou-se de um pouco de feijão que tinha sobrado do dia anterior, mas como não havia colocado na geladeira, achava que não estava bom para o consumo. Zé Maria pediu pra ver e sentir o cheiro, ele me contou que ao abrir a panela, notou uma espuma branca por cima, mas, a fome era tão grande que ele nem duvidou, afastou a espuma e comeu o feijão todinho, dizendo com aquele seu característico jeito:

- “...Olhe meu amigo, a fome era tão grande que raspei o fundo da panela...”

Após o lauto café da manhã, Zé Maria embarcou, sentou-se mais ou menos no meio do ônibus que seguiu viagem e, como ele mesmo disse:

- Meu amigo, depois de um pedaço, senti só o “muxôxo” no pé da barriga...

O feijão procurava uma saída avisando a Zé Maria e sinalizando com um “muxôxo”.

O ônibus avançava ao seu destino, e, mais ao menos perto da cidade de Bom Jesus, Zé Maria gritou:

- “...Motorista!! Pare!!” o motorista respondeu

- “...não posso, esse ônibus é expresso, só vai parar no destino...”

- “...se não parar vai haver um desastre aqui dentro!!...” Gritou Zé Maria

Nisso, ele já em pé ao lado do motorista segurando a barriga e se contorcendo.

Finalmente o motorista freou e parou, Zé Maria correu procurando um abrigo para suas necessidades fisiológicas.

Quem conhece o sertão, principalmente o do Rio Grande do Norte, sabe que, na beira da estrada, não existe uma árvore ou uma moita que dê pra esconder um adulto de cócoras, muito menos Zé Maria que era bem grande.

É só pedra e xique-xique, uma espécie de cactos abundante na região, ele me disse que achou um desses cactos, ficou atrás da planta, baixou as calças e fez o serviço.

Ao completar, notou que não tinha nem um confete no bolso e, muito menos um pedaço de papel, só achou o lenço e o usou. Ao terminar, enrolou o lenço usado, cuidadosamente e tornou a colocar no bolso, prevendo outra necessidade.

Naquele tempo nem se imaginava ar condicionado em automóveis, muito menos em um ônibus, ou seja, todos os passageiros estavam morrendo de calor e, pra aumentar ainda mais o desconforto, o motor ficava dentro da cabine e não podia ser desligado, e o pior todos ficaram observando aquela cena: Zé Maria agachado atrás de um pé de cactos se limpando com um lenço.

Ao regressar para o ônibus, ele me disse que era todo mundo fazendo comentários...

- “...Vixe Maria que fedor danado...devia ter era vergonha...um homem dessa idade...”

Sem ligar para os comentários, Zé Maria voltou pro seu assento e ouviu a mãe de um menino, que sentava ao seu lado, dizendo:

- vem pra cá antes que você se suje também... sente aqui, no meu colo!

Passado alguns minutos, Zé Maria sentiu outro muxoxo e muito pior do que os primeiros, levantou-se, saiu correndo gritando:

- Motorista, pelo amor de Deus... pare já esse ônibus!!

O motorista reconhecendo a voz, parou o onibus imediatamente, pois já sabia do que se tratava. Zé Maria, na carreira que vinha, percebeu que na primeira poltrona, ao lado da porta, tinha uma senhora gorda, usando uma longa trança no cabelo e uma roupa que lhe cobria todo o corpo, estava lendo uma revista intitulada de “A Sentinela”, ele arrebatou a revista das mãos da senhora, pedindo desculpa e dizendo:

- “... no momento, eu estou precisando mais do que a senhora, me desculpe...”

E a cena se repetiu, só que dessa vez tinha uma pedra bem grande que deu pra esconder Zé Maria todinho, talvez, ficando à mostra só o seu grande nariz!!


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